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A economia não suporta desaforos. Ter petróleo pode ser muito bom para um país, mas é preciso ter juízo e não avançar o sinal, caso contrário fatores não controlados diretamente pelos interessados (governos ou empresas) podem produzir muitos estragos.
O governo Lula, na fase I, estimulou um nacionalismo meio tolo, baseado na redenção pelo petróleo e o miraculoso talismã chamado pré-sal. Tudo se resolveria, no Brasil, pelo petróleo do pré-sal.
De fato, desde o início da década de 70 o Brasil sabia do grande estoque de petróleo nas profundezas marinhas. A tecnologia de rastreio é que evoluiu ao longo do tempo e as reservas foram redimensionadas para mais. Ótimo para todos. Mas o problema é ir lá no abismo extrair o ouro preto.
E sobre esses ovos não botados, mas potenciais, é que Lula cacarejou ao mundo a sua glória.
A Petrobras, usada politicamente, especialmente pelos petistas e seus associados, assou a ser um tipo de departamento do Ministério da Cultura, gastando bilhões em propaganda! A meta era extrair votos.
Agora extrai as consequências incontornáveis de gastar de forma errada, em atirar a esmo, como na compra de uma refinaria nos EUA, ou de entrar em negócios duvidosos como com as parcerias feitas com a Bolívia e a Venezuela.
O Brasil, indubitavelmente, e a empresa, só perderam com isso.
O governo também não tem controle sobre o câmbio, pois não controla todas as variáveis, assim como não controla os preços internacionais. Tentou manter um clima político agradável e represou preços dos produtos da empresa. Com isso a empresa se descapitalizou, ameaça seu futuro, provoca uma esteira de prejuízos ao afetar fornecedores, estancou a produção por falta de investimentos, e não tem os recursos necessários para manter o parque funcionando adequadamente.
Em suma, as fanfarronices de Lula custarão muito caro ao Brasil e à empresa. No dia em que houver um tipo de punição para uso abusivo do dinheiro público, de forma eficaz e contundente, separando a realidade empresarial e mercadológica de bravatas políticas, e colocando os responsáveis por tão imensos prejuízos na cadeia, talvez as coisas comecem a mudar.
GUTENBERG J.
Abaixo, os editoriais de hoje (6) da Folha e do Estadão sobre o assunto.
ESTRAGOS NA PETROBRÁS.
EDITORIAL DA FOLHA DE SÃO PAULO
O mau resultado no balanço da
Petrobras estava previsto, mas nem por isso causa menos apreensão.
O lucro líquido caiu para R$ 21,2 bilhões,
valor 36% menor que o de 2011. A produção de petróleo e derivados decepcionou,
com média de 1,974 milhão de barris por dia em 2012 -uma queda de 2,35% em
relação ao ano anterior.
A despeito do lucro contabilizado, o fluxo de
caixa -uma vez deduzidos os investimentos- tem sido negativo. Apenas no último
trimestre de 2012 o movimento da empresa consumiu R$ 11,7 bilhões.
A sequência negativa de resultados vem de
longe. Decorre, em boa medida, da gestão anterior da empresa, politizada e
refratária a critérios de eficiência.
A troca de comando no governo da presidente
Dilma Rousseff, com a saída de José Sergio Gabrielli e a ascensão de Maria das
Graças Foster, foi bem recebida por investidores, que veem disposição na nova
presidente para consertar estragos.
A tarefa será árdua. Estão programadas várias
paralisações de plataforma para manutenção no primeiro semestre, por exemplo, o
que reduzirá produção e receitas.
A causa principal da lucratividade menor foi,
paradoxalmente, o aumento da demanda por combustíveis. Vendas internas de
gasolina e diesel cresceram 17% e 6%, respectivamente, no ano. Como a produção
caiu, a Petrobras foi obrigada a importar ambos a preços maiores que os
praticados no país.
O governo não autoriza reajuste completo dos
preços, como forma de contrabalançar outras pressões inflacionárias. Com isso,
dificulta à Petrobras cumprir seu ambicioso programa de investimentos -só neste
ano estavam planejados desembolsos de R$ 97,7 bilhões.
Para manter o programa, a empresa se endivida.
A deterioração de suas finanças é evidente. A dívida líquida (já excluídos os
valores em caixa) chegou ao fim de 2012 em R$ 147,8 bilhões, perante R$ 103
bilhões no ano anterior.
A fim de conter a sangria de recursos, a
Petrobras decidiu cortar pela metade os dividendos distribuídos aos detentores
de ações ordinárias. Elas caíram mais de 8%, ontem, no pregão da Bolsa.
A despeito das expectativas quanto à
capacidade da direção de arrumar a casa, o fato é que a situação da companhia
não parece estar sob controle. Longe disso.
O governo errou ao definir um modelo de
exploração do pré-sal que sobrecarrega a petroleira, por obrigá-la a participar
de todos os campos. Continua em erro ao represar preços de combustíveis.
A decantada afinidade entre a presidente da
República e a presidente da Petrobras, como já se apontou aqui, pode fazer mais
mal à empresa do que beneficiar o país.
O DESMONTE DA PETROBRÁS
EDITORIAL DE O ESTADO DE S. PAULO
Com lucro de R$ 21,18 bilhões em
2012, 36% menor que o do ano anterior e o mais baixo em oito anos, a Petrobrás
paga um preço devastador pela sujeição aos interesses político-partidários do
Palácio do Planalto. Investimentos mal planejados, orientação ideológica,
loteamento de cargos e controle de preços de combustíveis comprometeram a
eficiência e a rentabilidade da empresa e a desviaram de seus objetivos
principais. Os danos impostos à companhia são parte da herança desastrosa deixada
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessora.
Desde o ano passado a nova
presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vem tentando corrigir seu rumo.
Mas a interferência nos preços permanece, os reajustes são insuficientes e a
geração de caixa continua prejudicada. Mais dificuldades surgirão neste ano,
avisaram ao mercado, nessa terça-feira, dois dos principais dirigentes da
Petrobrás. Pelo menos esse dado positivo acompanhou a divulgação das más
notícias: a presidente da empresa e o diretor financeiro, Almir Barbassa,
falaram sobre a situação e as perspectivas da companhia com uma franqueza
incomum durante a maior parte dos últimos dez anos.
Os problemas vão muito além de
uma piora temporária das condições financeiras. A produção de petróleo e gás no
Brasil, no ano passado, equivalente a 2,35 milhões de barris diários, foi 0,9%
menor que a de 2011. Com a parcela produzida no exterior a média diária
alcançou 2,59 milhões de barris equivalentes, volume 0,8% inferior ao do ano
anterior. A meta de 2,02 milhões de barris diários, fixada para 2012,
continuará valendo para este ano, com possibilidade de desvio de 2% para mais
ou para menos. Se o desvio ocorrer, advertiu a presidente, será provavelmente
para baixo. Não há possibilidade física, deixou claro a presidente, de um
aumento de produção.
As previsões para o ano incluem
também, segundo Maria das Graças Foster, mais R$ 6 bilhões de baixas
correspondentes a poços secos. Além disso, nenhum novo projeto deverá ser
iniciado em 2013. A empresa continuará empenhada em realizar os investimentos
já programados, mas o total aplicado, de R$ 97,7 bilhões, deverá ser R$ 5
bilhões maior que o anteriormente previsto. A empresa continua analisando a
qualidade econômica dos projetos enquadrados em 2012 como "em
avaliação". Ao assumir o posto, a nova presidente anunciou no ano passado
a intenção de rever os planos e prioridades. Não se anunciou, na ocasião, o
abandono de nenhum projeto, mas ficou clara a disposição de submeter o programa
da empresa a uma revisão crítica.
Sem perspectiva de maior produção
a curto prazo, a empresa terá de continuar importando grandes volumes para
atender à demanda crescente de combustíveis. Isso será inevitável mesmo com o
aumento da parcela de álcool misturada com a gasolina. A necessidade de maior
importação foi uma das causas da redução do lucro no ano passado. O controle de
preços foi um complicador a mais. A presidente da empresa reafirmou a intenção
de continuar buscando o realinhamento de preços. Mas isso dependerá de como o
governo pretenda enfrentar a inflação. Se insistir na manipulação de preços, os
problemas da Petrobrás poderão agravar-se.
Com dificuldades de geração de
recursos, a companhia foi forçada a aumentar seu endividamento. Com problemas
de caixa, a diretoria decidiu pagar dividendos menores aos detentores de ações
ordinárias do que aos demais acionistas, explicou Barbassa. Disso resultará uma
economia de R$ 3 bilhões para investimentos, acrescentou.
A Petrobrás necessitará de novo
aumento de capital, segundo alguns analistas. A presidente da empresa negou
essa possibilidade neste ano. Seja como for, o passo mais importante deve ser a
consolidação de um novo estilo administrativo, moldado segundo objetivos
típicos de uma empresa de energia. A Petrobrás será beneficiada, também, se as
suas encomendas de equipamentos e serviços forem decididas com base em
critérios empresariais. Não é sua função assumir os custos de uma política
industrial. Ter sucesso como uma gigante do petróleo já é um desafio mais que
suficiente.
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