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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A PETROBRÁS E A HERANÇA MALDITA QUE LULA DEIXOU PARA DILMA ROUSSEFF(que, por sua vez, já estava no governo). Lucros caindo, falta de investimentos, produção estancada. O que aconteceu com toda aquela propaganda feita por Lula da Silva?



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A economia não suporta desaforos. Ter petróleo pode ser muito bom para um país, mas é preciso ter juízo e não avançar o sinal, caso contrário fatores não controlados diretamente pelos interessados (governos ou empresas) podem produzir muitos estragos.

O governo Lula, na fase I, estimulou um nacionalismo meio tolo, baseado na redenção pelo petróleo e o miraculoso talismã chamado pré-sal. Tudo se resolveria, no Brasil, pelo petróleo do pré-sal.

De fato, desde o início da década de 70 o Brasil sabia do grande estoque de petróleo nas profundezas marinhas. A tecnologia de rastreio é que evoluiu ao longo do tempo e as reservas foram redimensionadas para mais. Ótimo para todos. Mas o problema é ir lá no abismo extrair o ouro preto.

E sobre esses ovos não botados, mas potenciais, é que Lula cacarejou ao mundo a sua glória.

A Petrobras, usada politicamente, especialmente pelos petistas e seus associados, assou a ser um tipo de departamento do Ministério da Cultura, gastando bilhões em propaganda! A meta era extrair votos.

Agora extrai as consequências incontornáveis de gastar de forma errada, em atirar a esmo, como na compra de uma refinaria nos EUA, ou de entrar em negócios duvidosos como com as parcerias feitas com a Bolívia e a Venezuela. 

O Brasil, indubitavelmente, e a empresa, só perderam com isso.

O governo também não tem controle sobre o câmbio, pois não controla todas as variáveis, assim como não controla os preços internacionais. Tentou manter um clima político agradável e represou preços dos produtos da empresa. Com isso a empresa se descapitalizou, ameaça seu futuro, provoca uma esteira de prejuízos ao afetar fornecedores, estancou a produção por falta de investimentos, e não tem os recursos necessários para manter o parque funcionando adequadamente.

Em suma, as fanfarronices de Lula custarão muito caro ao Brasil e à empresa. No dia em que houver um tipo de punição para uso abusivo do dinheiro público, de forma eficaz e contundente, separando a realidade empresarial e mercadológica de bravatas políticas, e colocando os responsáveis por tão imensos prejuízos na cadeia, talvez as coisas comecem a mudar.

GUTENBERG J.


Abaixo, os editoriais de hoje (6) da Folha e do Estadão sobre o assunto. 


ESTRAGOS NA PETROBRÁS.





EDITORIAL DA FOLHA DE SÃO PAULO


O mau resultado no balanço da Petrobras estava previsto, mas nem por isso causa menos apreensão.

 O lucro líquido caiu para R$ 21,2 bilhões, valor 36% menor que o de 2011. A produção de petróleo e derivados decepcionou, com média de 1,974 milhão de barris por dia em 2012 -uma queda de 2,35% em relação ao ano anterior.

 A despeito do lucro contabilizado, o fluxo de caixa -uma vez deduzidos os investimentos- tem sido negativo. Apenas no último trimestre de 2012 o movimento da empresa consumiu R$ 11,7 bilhões.

 A sequência negativa de resultados vem de longe. Decorre, em boa medida, da gestão anterior da empresa, politizada e refratária a critérios de eficiência.

 A troca de comando no governo da presidente Dilma Rousseff, com a saída de José Sergio Gabrielli e a ascensão de Maria das Graças Foster, foi bem recebida por investidores, que veem disposição na nova presidente para consertar estragos.

 A tarefa será árdua. Estão programadas várias paralisações de plataforma para manutenção no primeiro semestre, por exemplo, o que reduzirá produção e receitas.

 A causa principal da lucratividade menor foi, paradoxalmente, o aumento da demanda por combustíveis. Vendas internas de gasolina e diesel cresceram 17% e 6%, respectivamente, no ano. Como a produção caiu, a Petrobras foi obrigada a importar ambos a preços maiores que os praticados no país.

O governo não autoriza reajuste completo dos preços, como forma de contrabalançar outras pressões inflacionárias. Com isso, dificulta à Petrobras cumprir seu ambicioso programa de investimentos -só neste ano estavam planejados desembolsos de R$ 97,7 bilhões.

 Para manter o programa, a empresa se endivida. A deterioração de suas finanças é evidente. A dívida líquida (já excluídos os valores em caixa) chegou ao fim de 2012 em R$ 147,8 bilhões, perante R$ 103 bilhões no ano anterior.

 A fim de conter a sangria de recursos, a Petrobras decidiu cortar pela metade os dividendos distribuídos aos detentores de ações ordinárias. Elas caíram mais de 8%, ontem, no pregão da Bolsa.

 A despeito das expectativas quanto à capacidade da direção de arrumar a casa, o fato é que a situação da companhia não parece estar sob controle. Longe disso.

 O governo errou ao definir um modelo de exploração do pré-sal que sobrecarrega a petroleira, por obrigá-la a participar de todos os campos. Continua em erro ao represar preços de combustíveis.

 A decantada afinidade entre a presidente da República e a presidente da Petrobras, como já se apontou aqui, pode fazer mais mal à empresa do que beneficiar o país.

***** 
  

O DESMONTE DA PETROBRÁS

EDITORIAL DE O ESTADO DE S. PAULO

Com lucro de R$ 21,18 bilhões em 2012, 36% menor que o do ano anterior e o mais baixo em oito anos, a Petrobrás paga um preço devastador pela sujeição aos interesses político-partidários do Palácio do Planalto. Investimentos mal planejados, orientação ideológica, loteamento de cargos e controle de preços de combustíveis comprometeram a eficiência e a rentabilidade da empresa e a desviaram de seus objetivos principais. Os danos impostos à companhia são parte da herança desastrosa deixada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessora.

Desde o ano passado a nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vem tentando corrigir seu rumo. Mas a interferência nos preços permanece, os reajustes são insuficientes e a geração de caixa continua prejudicada. Mais dificuldades surgirão neste ano, avisaram ao mercado, nessa terça-feira, dois dos principais dirigentes da Petrobrás. Pelo menos esse dado positivo acompanhou a divulgação das más notícias: a presidente da empresa e o diretor financeiro, Almir Barbassa, falaram sobre a situação e as perspectivas da companhia com uma franqueza incomum durante a maior parte dos últimos dez anos.

Os problemas vão muito além de uma piora temporária das condições financeiras. A produção de petróleo e gás no Brasil, no ano passado, equivalente a 2,35 milhões de barris diários, foi 0,9% menor que a de 2011. Com a parcela produzida no exterior a média diária alcançou 2,59 milhões de barris equivalentes, volume 0,8% inferior ao do ano anterior. A meta de 2,02 milhões de barris diários, fixada para 2012, continuará valendo para este ano, com possibilidade de desvio de 2% para mais ou para menos. Se o desvio ocorrer, advertiu a presidente, será provavelmente para baixo. Não há possibilidade física, deixou claro a presidente, de um aumento de produção.

As previsões para o ano incluem também, segundo Maria das Graças Foster, mais R$ 6 bilhões de baixas correspondentes a poços secos. Além disso, nenhum novo projeto deverá ser iniciado em 2013. A empresa continuará empenhada em realizar os investimentos já programados, mas o total aplicado, de R$ 97,7 bilhões, deverá ser R$ 5 bilhões maior que o anteriormente previsto. A empresa continua analisando a qualidade econômica dos projetos enquadrados em 2012 como "em avaliação". Ao assumir o posto, a nova presidente anunciou no ano passado a intenção de rever os planos e prioridades. Não se anunciou, na ocasião, o abandono de nenhum projeto, mas ficou clara a disposição de submeter o programa da empresa a uma revisão crítica.

Sem perspectiva de maior produção a curto prazo, a empresa terá de continuar importando grandes volumes para atender à demanda crescente de combustíveis. Isso será inevitável mesmo com o aumento da parcela de álcool misturada com a gasolina. A necessidade de maior importação foi uma das causas da redução do lucro no ano passado. O controle de preços foi um complicador a mais. A presidente da empresa reafirmou a intenção de continuar buscando o realinhamento de preços. Mas isso dependerá de como o governo pretenda enfrentar a inflação. Se insistir na manipulação de preços, os problemas da Petrobrás poderão agravar-se.

Com dificuldades de geração de recursos, a companhia foi forçada a aumentar seu endividamento. Com problemas de caixa, a diretoria decidiu pagar dividendos menores aos detentores de ações ordinárias do que aos demais acionistas, explicou Barbassa. Disso resultará uma economia de R$ 3 bilhões para investimentos, acrescentou.

A Petrobrás necessitará de novo aumento de capital, segundo alguns analistas. A presidente da empresa negou essa possibilidade neste ano. Seja como for, o passo mais importante deve ser a consolidação de um novo estilo administrativo, moldado segundo objetivos típicos de uma empresa de energia. A Petrobrás será beneficiada, também, se as suas encomendas de equipamentos e serviços forem decididas com base em critérios empresariais. Não é sua função assumir os custos de uma política industrial. Ter sucesso como uma gigante do petróleo já é um desafio mais que suficiente.



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