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segunda-feira, 13 de junho de 2011

O INTERIOR SOMBRIO DE MARIO VARGAS LLOSA. O que levou o Nobel de Literatura a preferir Ollanta Humala?

A raposa e o tigre

OLAVO DE CARVALHO
13 JUNHO 2011
           

O próprio Luiz Inácio já confessou tantas vezes a unidade estratégica do Foro de São Paulo por trás da variação de suas aparências locais, que a recusa de enxergá-la só pode ser obra da mendacidade consciente, de uma burrice política imperdoável ou de uma hábil mistura dos dois elementos.

A opinião de Mário Vargas Llosa, segundo a qual a eleição de Ollanta Humala para presidente do Peru é "uma grande vitória da democracia", não tem nem o mais mínimo fundamento objetivo e desperta no observador a tentação de explicá-la por motivos psicológicos, pessoais.

Nada neste mundo, exceto um viés subjetivo imantado de forte carga emocional justifica a presunção de que o fujimorismo é mais perigoso para a democracia do que o Foro de São Paulo. No mínimo há o fato de que Alberto Fujimori foi removido do poder e condenado pela Justiça, e nada de semelhante aconteceu ou pode acontecer aos membros e amigos do Foro, ainda que cometam, como cometem, crimes infinitamente maiores que os do ex-presidente peruano.

Também não é preciso ser nenhum Prêmio Nobel de Literatura para entender que o fujimorismo é um fenômeno local, sem extensões fora do Peru, ao passo que o Foro é, por definição, o comando estratégico da revolução comunista em escala continental, apoiado por uma rede de conexões internacionais que vai desde as fundações americanas bilionárias até a KGB e a máfia russa espalhada pelo mundo. Rejeitar Keiko Fujimori e escolher alegremente Ollanta Humala é expulsar a raposa para entregar a gerência do galinheiro a um tigre.

Um tigre não se torna menos tigre por vir de unhas pintadas. Que Humala tenha, para fins de propaganda, preferido copiar antes o modelito soft de Luís Inácio Lula da Silva do que as caretas ameaçadoras de Hugo Chávez é um detalhe cosmético a que só mentalidades frívolas podem dar valor.

Lula foi o criador e é ainda o mentor do Foro de São Paulo, o comandante-em-chefe de uma entidade proteiforme que, atendendo tão somente às suas necessidades táticas de momento e lugar, alterna com a maior indiferença os meios de ação mais diversos e heterogêneos, da sedução ao assassinato em massa, da camuflagem rósea à intimidação explícita, dos afagos aos sequestros.

O próprio Luiz Inácio já confessou tantas vezes a unidade estratégica do Foro de São Paulo por trás da variação de suas aparências locais, que a recusa de enxergá-la só pode ser obra da mendacidade consciente, de uma burrice política imperdoável ou de uma hábil mistura dos dois elementos.

Como essa mistura se produziu no cérebro de Mário Vargas Llosa é um enigma que deixo para seus futuros biógrafos. O ódio de muitas décadas a Alberto Fujimori, mesmo acrescido do ressentimento de concorrente derrotado nas eleições de 1990, não bastaria para destruir totalmente o senso das proporções em massa neuronal tão privilegiada.

A explicação psicológica não resolve. Mais razoável é apelar à sociologia: ao emitir sua opinião, Vargas Llosa talvez estivesse menos expressando um sentimento pessoal do que repetindo um script tradicional, característico de certa classe de pessoas. Llosa é um daqueles intelectuais ex-comunistas que não tiveram a coragem de abraçar a causa anticomunista com a mesma intensidade, o mesmo comprometimento com que um dia serviram ao Partido.

Tomar birra da ditadura comunista é uma coisa. Outra, bem diversa, é tornar-se um Arthur Koestler, um Vladimir Bukovski, um Whittaker Chambers. O preço,aí, é alto demais. Muitos são os que não querem pagá-lo.

Ao contrário, sua ruptura com o comunismo, parcial, mediada e cheia de reservas, é antes de tudo um salvo-conduto para continuar combatendo "a direita" mais eficazmente, sem ser acusados de fazê-lo em proveito de ditaduras de esquerda, ainda que dando força a estas últimas em momentos estratégicos decisivos (como a eleição de mais um pau-mandado do Foro de São Paulo), ungindo-as com o óleo bento do "antifascismo".

A História já demonstrou que isso de "ex-comunista" não existe. Ou o sujeito se torna anticomunista professo, aceitando posar de monstro e inimigo público ante a mídia chique, ou apenas muda de cargo na hierarquia comunista, passando de militante a companheiro de viagem. Este posto tem a vantagem de uma certa liberdade de opiniões, contanto que seu ocupante só fale contra o comunismo em termos doutrinais e genéricos, mas o apoie, com ares neutros, nas horas de necessidade, entre as circunstâncias reais e concretas da luta pelo poder.

É francamente estúpido argumentar, como o comentarista espanhol Martín Santiváñez Vivanco, semanas antes das eleições, que "só na democracia se pode e se deve vencer o terrorismo, porque só assim uma vitória completa alcança legitimidade". Álvaro Uribe, que combateu o terrorismo preservando a normalidade constitucional democrática, não é menos odiado, nem menos atacado na mídia internacional, nem menos perseguido nos tribunais, do que Augusto Pinochet, que o fez pela ditadura, ou do que a dupla Fujimori-Montesinos, que o fez pela violência somada à corrupção.

Fujimori já era execrado por toda parte muito antes que seus delitos viessem a público. Foram suas vitórias contra o terrorismo de esquerda que fizeram dele a "bête noire" em que se tornou, desencadeando contra sua pessoa a fúria investigativa que a grande mídia jamais voltou contra o Foro de São Paulo, a máfia de Havana ou os agentes financeiros da KGB em ação na América Latina.

Qualquer governante, democrático ou ditatorial, honesto ou desonesto, que ouse erguer a mão contra a esquerda armada será estigmatizado e hostilizado pela opinião bem-pensante, pelo simples fato de que, se nesta abundam comunistas, não-comunistas e ex-comunistas, nela não há lugar para anticomunistas.

  

Posto, em seguida, texto que publiquei no dia 28 de maio, antes do segundo turno.
Ali estranhava a evidente estupidez de Vargas Llosa em preferir apoiar Ollanta Humala, esquerdista chegado a Hugo Chávez e ao Foro de São Paulo  à candidata Keiko Fujimori, vista pelo escritor como continuidade do regime implantado por seu pai. Uma bobagem, pois Fujimori está preso e Keiko seria fiscalizada por todos os peruanos, obviamente, especialmente a esquerda.

Fico feliz pela cortante análise do professor Olavo de Carvalho, que ensina sempre que escreve, fazendo indicações importantes de textos, autores e livros fundamentais para a formação de alguém que não queira ser escrevo de uma ideologia.
  

SÁBADO, 28 DE MAIO DE 2011

KEIKO FUJIMORI E OLLANTA HUMALA FAZEM ÚLTIMO DEBATE ANTES DO SEGUNDO TURNO NO PERU. Apoio estúpido do direitista Vargas LLosa (Nobel de Literatura) ajuda o esquerdista Ollanta.

Talvez o debate televisivo deste domingo à noite (29 de maio) seja decisivo para o futuro do Perú. Aproximar-se ou afastar-se do bloco bolivariano, liderado por Hugo Chávez poderá fazer uma enorme diferença na vida dos peruanos. O segundo turno acontece no domingo cinco de junho.

O debate será entre Keiko Fujimori e Ollanta Humala. Keiko tem o apoio da classe média urbana e do empresariado que está investindo no país e tornando o Perú uma economia mais moderna e um país mais seguro, depois da derrota do Sendero Luminoso e de uma boa estabilidade política.

Ollanta Humala, ultranacionalista, apoiado por toda a esquerda da América Latina, é o candidato de Hugo Chávez e do Foro de São Paulo, que já fez uma série de presidentes, numa estratégia supranacional, de clara intervenção de forças políticas de uns países sobre os outros. Basta lembrar a escandalosa intromissão de Chávez (com muitos milhões de dólares nas eleições da Argentina, Bolívia, Paraguai, Equador, Nicarágua e Honduras).  

Após o primeiro turno, em abril, Ollanta aparecia em primeiro nas pesquisas. Em maio Keiko assumiu a liderança e, agora, as pesquisas indicam novamente empate técnico, com Ollanta levemente à frente, com 43,8 contra 42,5.

O avanço do esquerdista admirador do chefe terrorista Abimael Guzmán, do Sendero Luminoso, ocorreu, segundo comentaristas peruanos, em parte devido ao significativo apoio que tem sido dado pelo escritor Prêmio Nobel da Paz de Literatura, Mario Vargas Llosa.

Llosa, inimigo tradicional da esquerda, desta vez não tem seu apoio rejeitado pelos esquerdistas peruanos.

A AMBIGUIDADE DE LLOSA

Parece até que vejo o apoio de Collor, Maluf  e Sarney a Lula ou a Dilma. Na política há muitas semelhanças entre os países.

O mau, o corrupto, o maldito num momento, no momento seguinte pode ser seu mais fiel e fraternal aliado. É um modo muito nojento de fazer política. Mas eles se entendem.

Embora negue, Llosa deve estar agindo com o fígado e não com a razão. Nos anos 90 Mario Vargas LLosa, como candidato de formação liberal, disputou e perdeu a presidência peruana para Alberto Fujimori, pai de Keiko.

Fujimori acabou dando um golpe e terminou preso acusado de corrupção e crimes contra a Humanidade.

Mas, em seu governo, entretanto, aniquilou com o grupo maoista comunista Sendero Luminoso, que impôs o terror ao Perú duarante 20 anos. Mais de 50 mil peruanos morreram por conta das ações do Sendero, um dos grupos terroristas mais cruéis do mundo.

Vargas Llosa diz que prefere apoiar Humala que Fujimori, pois acredita que a eleição de Keiko seria um risco ao Perú, pela corrupção. Os escritores (e isso me dói dizer, pois sou grande leitor de Vargas Llosa) às vezes têm a cabeça na Lua.

O Prêmio Nobel imagina que não há corrupção em governos de esquerda na América Latina? Não vê o que tentam contra quem pensa diferente e contra a imprensa? Basta ver o que acontece hoje à imprensa na Venezuela, na Argentina e na Bolívia, para não nos alongarmos muito.

Devo imaginar que Llosa, depois de velho, está perdendo o juízo.  É muito preferível Keiko no poder, porque será controlada pela esquerda e pelo mercado e não tentará dar golpe mais do que Ollanta.

Este é admirador de Hugo Chávez e está fingindo afastamento porque nas eleições de 2005 acabou perdendo exatamente devido ao apoio do "capeta". Agora Ollanta, assessorado por petistas, quer passar a imagem de moderado, de amigo do "capital", que é independente em relação a Hugo Chávez. Zelaya também acreditava nisso quando se elegeu, vimos como acabou a brincadeira em Honduras.

Humala é um esquerdista casado com uma comunista de carteirinha, Nadine Heredia, muito melhor preparada que ele em marxismo (portanto em desastres econômicos). Sobre isso não pode haver dúvidas, basta notar o desempenho da economia cubana, da Venezuela, da Argentina.

Demagogos marxistas são uma desgraça para o povo, apesar da propaganda, pois querem interferir em tudo, desconhecendo que não existe almoço grátis. Não há uma única economia marxista organizada e funcionando bem. Pensar na China não vale. Lá comunista só restou a ditadura.

Creio que o apoio de Llosa a Humala vá custar muito caro ao todo o povo peruano. Mas se assim votarem... É a vontade das urnas.
Mas poderia ter sido evitado.

Entregar o país à esquerda, apenas por não gostar de Alberto Fujimori, é de uma estupidez que jamais imaginei em Mario Vargas Llosa. Fica aqui o meu registro.

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