Encarar aquele par de olhos penetrantes é como embarcar numa aventura, uma viagem, uma imensa carga de adrenalina. Ou uma viagem na imaginação, de sonhos, devaneios. Mas pode ser uma viagem perigosa, uma viagem sem volta, pois atrás deles, ou dentro deles, parece morar o perigo. A Morte, em pessoa.
Esses olhos de cor indefinida, ora azuis-acinzentados, ora verde-azulados, ora levemente cor de mel, parecem entregar mais do que prometem, ou menos, conforme a circunstância. Por conta desses olhos fascinantes, talvez, Fábio Gabriel Rodrigues, de 33 anos, de Niterói, partiu para uma viagem sem volta no quarto 143 do Motel Status, em Itaipú, no dia 14 de maio, há exatamente um mês.
Segundo a delegada que conduz as investigações, Juliana Rattes, da 77ª DP de Icaraí, Verônica Verone de Paiva, de 18 anos, a dona daquele memorável e perigoso par de olhos, levou o empresário, dono de um lava-jato ao motel, com a intenção de matá-lo.
Seria possível tanta frieza e cálculo? Tamanho desprezo pela vida? Sim, pela vida, pois, afinal, ela pode ter acabado com a vida de Fábio, mas também, de algum modo, liquidou com a sua própria vida. Ao menos uma vida normal, como seria de se imaginar para uma linda garota de 18 anos, cheia de sonhos e certemente, muitos interessados.
Para a delegada, segundo afirmou à imprensa, nestes dias de investigação, a polícia descobriu, por meio de depoimentos de diversas pessoas, e mesmo informações dadas por Verônica, que ela teria tentado comprar uma pistola, e depois teria oferecido uma soma de R$2 mil para quem quisesse matá-lo.
Certamente ou acharam a quantia pequena ou muito arriscado matar alguém muito conhecido por ali. De qualquer modo Verônica acabou não comprando a arma (será que ela chegou a pensar em usá-la, diretamente, caso a tivesse adquirido?) e nem achou um pistoleiro de aluguel.
Assim, conforme a delegada Juliana, Verônica deu um jeito de atrair Fábio até o motel, para executar o seu plano diabólico.
Os parentes de Fábio haviam ficado revoltados quando ela, após procurar a polícia para dizer que havia matado o empresário em um acesso de fúria quando ele teria tentado estuprá-la, disse que antes de irem ao motel o rapaz havia bebido muito e passado em duas favelas para comprar maconha e cocaína. Os parentes dele achavam isso impossível, e afirmavam que ele era atleta e não usava drogas. Alguns amigos disseram, sim, que ele era meio mulherengo.
Agora, o laudo toxicológico indica que o seu organismo tinha produtos químicos, mas eram produtos originários de remédios anti-depressivos que Verônica, segundo a delegada, havia misturado a bebidas alcoólicas e forçado Fábio a tomar. Forçado não fisicamente, com charme, com encanto, com sedução, com o brilho daquele par de olhos aos quais nada se pode recusar.
E Fábio ingeriu bebida que o fez ficar meio zonzo, atordoado. Verônica teria, então, batido com alguma coisa, fortemente na cabeça dele, fazendo-o desmaiar. Em seguida teria usado um cinto para enforcá-lo.
Essa é a história montada pela polícia diante dos indícios coletados, dos laudos cadavérico e toxicológico, dos depoimentos de Verônica, da mãe de Verônica, de amigos dela e dele, e outras pessoas que a polícia localizou por meio da quebra do sigilo, com ordem judicial, dos telefones de Verônica.
Para Verônica, os fatos são os mesmos, foram ao motel, conversaram (ela disse que eles tinham uma amizade colorida) e que, num dado momento, ele, bêbado, alterado pelas drogas, teria tentado arrancar o short dela e estuprá-la. Ela ficou em fúria e o teria empurrado da cama e passado um cinto em seu pescoço, matando-o. Isso é disse à polícia no dia seguinte de manhã quando foi à delegacia contar, por vontade própria, o que havia acontecido.
Mas muita gente começou a duvidar da história. Diziam que ela o conhecia há dois anos, eram amantes e que ele andou saindo com uma outra após terem se afastado. Ela teria ficado furiosa e demonstrado um forte traço obsessivo, persistente, incapaz de aceitar a separação.
Parentes de Fábio disseram que na semana anterior à morte dele ela ligou dezenas de vezes para falar com ele. Antes disso, já havia dado mostra de seu temperamento obsessivo, ligando, inclusive, para a casa dele, quando ainda era casado. Sim, Fábio era casado e tinha dois filhos. Mas Verônica disse à mulher dele que ele seria dela ou de mais ninguém.
Isso acabou levando o casal ao divórcio. Separaram-se (divórcio) no início deste ano. Fábio ainda encontrou-se com ela algumas vezes, mas ela também contou à polícia que gostava de sair e que teria dois namorados no Rio e namorava uma moça. No bairro em que moravam, Verônica e Fábio moravam em ruas paralelas, alguns chegavam a pensar que ela fosse um tipo de garota de programas.
Depois que ela foi à delegacia contar o que havia acontecido no motel, ela começou a andar acompanhada do advogado Rodolfo para prestar os depoimentos e também no dia da reconstituição. Seu advogado, mais de uma vez, disse à imprensa que ela era doente, um tipo de "doente mental", que tinha que tomar uns dez remédios por dia, inclusive remédios de tarja preta, e até para síndrome do pânico.
Disse também o seu advogado que ela havia ficado descontrolado porque quando Fábio tentou estuprá-la ela lmebrou-se de uma experiência terrível de quando tinha sete ou oito anos e havia sofrido algo parecido de um parenet próximo. Na ocasião muitos estranharam a declaração, inclusive a sua mãe, que disse à polícia desconhecer tal fato.
Verônica tem uma irmã, e perdeu o pai há algum tempo. Mas não ficou claro quem teria sido o abusador, ou pretenso abusador. O advogado chegou a dizer que ela havia sentido a morte do pai e da avó, mais recentemente, à qual ela seria muito ligada, o que teria alterado seu comportamento, obrigando aos remédios. Mas mortos não falam, não é, ficaremos sem saber se ela se referia ao pai ou a outro parente. Ou se isso, de fato, aconteceu.
Agora que as coisa estão esclarecidas, do ponto de vista da polícia, Verônica terá o caso encaminhado à Promotoria Pública para o andamento do inquérito e a sua remessa à Justiça, com as acusações.
A delegada Juliana Rattes crê que ela premeditou o crime. Verônica está detida na penitenciária de Bangu 7, foi indiciada por homicídio triplamente qualificado e por tentativa de ocultação de cadáver.
A investigação foi encaminhada na sexta-feira para a 2ª Central de Inquéritos, e a polícia concluiu que a vítima morreu em decorrência de uma fratura na traqueia por ação mecânica.
A ser assim, a ser essa a verdade, Verônica Verone de Paiva mostrou ser uma mulher realmente fora dos padrões, pois o que poderia ter sido apenas uma frase de uma crônica de Nelson Rodrigues "se não fores meu não será mais de ninguém" realmente teve resultados concretos, não apenas retóricos, custando a vida de Fábio Gabriel Rodrigues e alterando, profundamente, a existência de muita gente das duas famílias envolvidas.
Aquele par de olhos sedutores escondia mais que promessas de alegria, momentos de prazer e felicidade. Por trás daqueles olhos estava tocaiada a própria Morte.
(Texto baseado em informações da Imprensa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário