Fico muito aborrecido ao publicar um texto como este do professor Olavo de Carvalho. Gostaria de ler outras coisas sobre o Brasil. E ele poderia ter gasto seu precioso tempo com assuntos muito melhores que a nossa triste realidade. Mas é sempre amarga a verdade. E o nosso maior filósofo escreve nada mais que a verdade sobre este país miserável, e é dos poucos que o fazem. Ainda bem.
Estamos descendo a ladeira, quanto mais a propaganda oficial espalha o contrário. Jovens querem ir para o exterior ou conseguir um emprego público, as escolas oferecem ideologia e não estudo sério, indústrias fecham e desempregam ou tornam-se empresas importadoras de produtos chineses, a inflação volta acelerada, o etanol, o bio-diesel, e outros combustíveis, tudo brincadeirinha. Estamos comprando etanol americano.
As fronteiras estão mais abertas que nunca ao tráfico de drogas e armas, a corrupção parece ser premiada, e não punida. Por estes dias lemos que o Brasil está se transformando em refúgio predileto de criminosos e terroristas devido à nossa complascência com o crime e ausência de leis sobre terrorismo e elasticidade quanto ao cumprimento de tratados internacionais (Caso Battisti).
O nosso dinheiro, sim, o nosso dinheiro, dos impostos, porque governos não produzem absolutamente nada, é espalhado para ajudar ditaduras africana corruptas e governos demogógicos e populistas das Américas, por conta de generosos financiamentos do BNDES. O Brasil está ajudando, sendo "solidário", nessa abjeta linguagem esquerdo-correta, com o Paraguai, a Bolívia, Cuba, Venezuela, isto é dando os nossos tributos a outros povos, enquanto o nosso ainda é alvo de campanhas "contra a miséria". E como combater decentemente a miséria geral (a fome, a deseducação, a insegurança, a falta de saúde) se o nosso dinheiro vai para o exterior?
O Brasil aguenta tanto desaforo porque é uma economia relativamente grande e complexa, com um parque industrial razoavelmente moderno, duzentos milhões de habitantes, e um lombo de povo servil, súdito, acostumado há séculos que o "senhor", o "senhor rei" tudo resolva. E aqui ficamos aplicando pequenos golpes uns nos outros. Não à toa temos a famosa lei da vantagem. O negócio é sempre levar vantagem. Civilização que se dane.
GUTENBERG J.
Breve retrato do Brasil
Olavo de Carvalho
O Foro de São Paulo, aquela entidadezinha que segundo os eminentes bambambãs do jornalismo brasileiro não tinha importância nem força nenhuma, aquela organização fantasmal na qual só os paranóicos enxergavam alguma periculosidade, domina agora metade da América Latina e não dá o menor sinal de cansaço na sua marcha para a conquista do continente inteiro.
No Brasil, os partidos de direita agonizam. Seus líderes se afobam e se atropelam na pressa obscena de mostrar subserviência ao vencedor. O homem que entre sorrisos de auto-satisfação elevou a dívida nacional à casa dos trilhões, desgraçando as gerações futuras para ganhar os votos da presente, continua sendo aplaudido como o salvador da nossa economia e prepara seu reingresso triunfal no Palácio do Planalto.
Denunciado à Justiça como corrupto e corruptor, ri e aposta, como um ladrãozinho qualquer, na lentidão dos tribunais, que não o pegarão em vida. Os bandos criminosos, treinados e armados pelas Farc -- por sua vez amparadas pela benevolência oficial --, matam 40 mil brasileiros por ano e, pela força desse exemplo, mantêm inerme e cabisbaixa uma população à qual o governo sonega tanto a proteção policial quanto os meios de autodefesa.
Nas escolas, as crianças aprendem a cultuar a sodomia e a desprezar a gramática, só fazendo jus aos últimos lugares nos testes internacionais pela razão singela de que não há um lugar abaixo do último. As indústrias chamam técnicos do exterior, porque das universidades brasileiras não vem ninguém alfabetizado.
Em todo o território nacional, só três coisas funcionam: a coleta de impostos, o narcotráfico e o agronegócio, que tapa o rombo aberto pelos outros dois e é, por isso mesmo, o mais odiado, o mais xingado dos três. Os juízes usam a Constituição como papel higiênico e a única ordem jurídica que resta é a prepotência dos grupos de pressão subsidiados por fundações estrangeiras.
As Forças Armadas se aviltam, respondendo a cusparadas com muxoxos e rastejando ante os que as desprezam.
A alta cultura desapareceu, há trinta anos não surge um escritor digno desse nome, as poucas mentes criadoras que restam fogem para o exterior ou definham no isolamento, o simulacro de pesquisa científica com que as universidades sugam bilhões de reais do contribuinte nada produz que valha a pena ler.
Uma ortografia de loucos acabou se impondo como lei, assinada, e não por acaso, por um presidente analfabeto. Um palhaço iletrado que se elegeu por gozação é nomeado, na Câmara, para a Comissão de Cultura, um cargo para o qual, com toda a evidência, não se requer cultura nenhuma.
Nas discussões públicas, as mentes iluminadas de comentaristas e acadêmicos se dispersam em mil e um detalhes fúteis, ostentando falsa esperteza sem jamais atinar com a forma geral do processo histórico que toda semana as desmente e as ridiculariza. E quanto mais erram, mais inteligentes parecem a um público que elas próprias emburreceram precisamente para isso.
Em suma, está tudo exatamente como há décadas venho anunciando que ia estar, e só me resta o consolo amargo de ter tido razão onde o erro teria sido mil vezes preferível. O povo mostrou-se incapaz de controlar seus governantes, os governantes incapazes de controlar seus mais baixos instintos, a elite nominalmente pensante incapaz até mesmo de acompanhar o que está acontecendo, quanto mais de prever o que vai acontecer em seguida.
O Brasil está dando um espetáculo de inconsciência, de insensibilidade, de sonsice irresponsável como jamais se viu no mundo.
É um país que vive de mentiras autolisonjeiras
Diário do Comércio, 6 de junho de 2011
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