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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O INDISFARÇÁVEL CHEIRO DO NEOLIBERALISMO DE DILMA ROUSSEFF. OU, na novilíngua petista privatização é concessão.

MUNCHHAUSEN: SAINDO DO ATOLEIRO PUXANDO OS PRÓPRIOS CABELOS!
(ILUSTRAÇÃO DE GUSTAV DORÉ - DOMÍNIO PÚBLICO)
Confesso que ainda não pude analisar, como gostaria, as notícias com os detalhes do Plano Nacional de Logística Integrada apresentado pela presidente Dilma, ontem, a uma platéia de empresários empreiteiros que não cabiam em si de contentamento. Não usei a expressão “neoliberalismo” por acreditar que isso exista em teoria econômica. Não existe.

E nem para criticar uma postura liberal em economia. É no que acredito.
Mas é impossível não usar a palavra para associa-la a uma to de um governo petista, visto que a expressão foi criada para demonizar os adversários, como se o liberalismo fosse alguma  coisa do Mal. Não é.

Mas não deixa de ser interessante e altamente instrutivo observar a esquerda ter que adotar medidas que eram demonizadas, amaldiçoadas, usadas para apedrejar os adversários políticos. Medidas corretas, mas que a esquerda vê como se fosse um tipo de pecado original.

A esquerda nunca conseguiu se entender bem com a realidade concreta. Como são do time que acredita na possibilidade da construção de “um mundo melhor”, em que as palavras, intenções e planos valem mais que aquilo se tem de fato, isto é, o mundo lá fora, os esquerdistas tentam recriar, então a realidade, mudando o nome das coisas. É a famosa Novilíngua em ação.    

Como diria Jânio, fa-lo-ei nos próximos dias e farei umas contas para saber se os planos cabem mesmo no calendário da realidade.

Assim, por cima, de raspão, a leitura apressada me fez lembrar de duas figuras, uma ficcional, a outra real. A primeira, mais cômica, a do famoso Barão de Munchhausen, um tremendo mentiroso. A segunda, menos cômica, do também famoso coronel Erasmo Dias que, dizem, costumava afirmar (sobre suspeitos de subversão e terrorismo): “se anda como pato, grasna como pato, tem jeito de pato e parece um pato, então será tratado como um pato”.

Para mim, o tal Plano Nacional de Logística Integrada, apesar dos desmentidos petistas sobre ser privatização, está grasnando como um pato.

E o Barão de Munchhausen? Numa de suas histórias fantásticas, que encantaram a minha infância, ele saia de um atoleiro de lama onde havia caído com seu cavalo, puxando-se pelos próprios cabelos.

Enquanto não tenho tempo para analisar o tal plano, retiro do arquivo um texto de Guilherme Fiúza, de fevereiro dêste ano, publicado na revista Época, sobre a privatização petista dos aeroportos.   

O PT ensina a privatizar com ternura

23 de fevereiro de 2012
Guilherme Fiuza


Depois da festa de aniversário do PT, o Brasil respirou aliviado: após o leilão de três aeroportos pelo governo Dilma, o Diretório Nacional do partido divulgou uma resolução garantindo que “não é verdade que acabou a disputa ideológica sobre as privatizações”. Graças a Deus! Sem disputa ideológica, como se sabe, o PT desapareceria. E isso seria muito grave. Não pelo desgoverno, mas pelo desemprego: para onde iria o imenso contingente de companheiros pendurados na máquina pública graças à mitologia do partido? Hoje, o fim da disputa ideológica seria praticamente um problema social.

O mito das privatizações como coisa do demônio já rendeu à esquerda uma coleção de vitórias eleitorais. A ideia da “privataria” é uma mina de ouro, um filão aparentemente inesgotável de votos. E o negócio é seguro, porque ao eleitorado, nesse caso, não interessa a verdade. Assim como as crianças diante dos contos de fadas, o eleitor prefere que o bem e o mal sejam distinguidos pelo mito – que, entre outras vantagens, está sempre no mesmo lugar.

Se dependesse do PT, a telefonia nacional estaria até hoje nas mãos da Telesp, Telerj e congêneres. Era um sistema apodrecido pela corrupção e pela ineficiência, que servia menos aos aparelhos telefônicos que ao aparelhamento político. Mas era “nosso”. A privatização mudou a vida de milhões de brasileiros, especialmente os mais pobres, que até outro dia ainda se comunicavam pelo sistema de recado na birosca. Mas, como a fábula não pode terminar com a vitória do monstro (neoliberal), o eleitor arranjou um jeito de adorar seu telefone novo e detestar a privatização. Viva o milagre da disputa ideológica.

O mito da “privataria” é tão forte que vende até livro. Um ajuntamento criativo de documentos que, bem embaralhados, resultam numa série de quase denúncias gravíssimas – no melhor do jornalismo impressionista – vira best-seller. As privatizações melhoraram a vida dos brasileiros e livraram o Estado de uma multidão de parasitas. Mas é muito mais emocionante acreditar na lenda de uma quadrilha de espertos que saqueou o país vendendo “o que é nosso”. E que – atenção! – pode voltar a qualquer momento tentando derrotar o PT.

Confrontos entre ideologias já se viram aos montes. Mas um partido defendendo a própria “disputa ideológica” é a primeira vez. Eis a tradução da nota do PT para o português:
– Prezados eleitores, por favor, não abandonem essa dicotomia estúpida entre privatização e defesa do patrimônio público. Não deixem de acreditar que a fronteira entre o bem e o mal está nesse dilema imaginário. Esqueçam o bom funcionamento de telefones, aeroportos e outros itens da monotonia cotidiana. Sejam politizados, revolucionários, concentrem-se no duelo entre direita e esquerda. Só assim, com essa mente esquemática e essa lógica primária, vocês terão a chance de vestir a camisa, levantar a bandeira e verter seu ódio contra o inimigo. Ah, sim: e, nas eleições, exerçam sua cidadania descarregando seus votos conscientes nos candidatos contra a privataria (que, por acaso, são os nossos).

A inédita defesa dessa instituição lucrativa (a disputa ideológica) se fez necessária por causa da privatização dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. Antes que o povo começasse a confundir o bem com o mal e vice-versa, o partido fez o esclarecimento definitivo: privatização do PT não é privatização.

Alívio geral. Por um momento, até pareceu que algum vírus neoliberal tivesse sido solto no gabinete da companheira Dilma. Felizmente isso não aconteceu. O que parecia privatização era, na verdade, “concessão”. A privatização da telefonia também foi uma concessão, mas aí há uma enorme diferença: não foi feita pelo PT. Portanto, é privataria.

Com tudo colocado em seu devido lugar, o partido da presidente pôde cuidar de retocar outras verdades. Pela resolução do Diretório Nacional, o país ficou sabendo que a queda de sete ministros de Dilma após uma escandalosa sucessão de fraudes foi “uma campanha de setores da oposição que buscavam desestabilizar o governo através de seguidas denúncias de corrupção em ministérios”. Por essa, ninguém esperava. Os neoliberais fizeram até os companheiros do bem privatizarem dinheiro do povo.

Fonte: revista Época

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