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Conta a lenda que, num certo dia 23 de abril, Lula sonhou com o argentino Borges. Ou teria recebido a visita noturna de Borges, não sei ao certo. Pareceu-me estranho que isso pudesse ter acontecido, pois Borges amava o conteúdo dos livros, e chegou a ser guardião de mais de 800 mil deles enquanto dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Lula, bem, sabemos - por confissão própria - de sua ojeriza por livros.
Até hoje fico tentando entender o motivo de tal visita tão estranha, tão incompatível. Talvez o velho Borges, cansado da solidão tenha errado de endereço e tivesse ido bisbilhotar o que diziam sobre a morte de Garcia Márquez. Mas, por que ele se interessaria pelo amigo dos comunistas? Borges gostava de Lugones, Keats, Schopenhauer, Heráclito, de anglo-saxão antigo, e do amigo Bioy Casares.
Sobrou um fragmento da conversa entre Borges e Lula.
Olhando-o por meio da bruma da cegueira e da escuridão da noite Borges lembrou Emerson: "creio que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas"... "O que é um livro em si mesmo? É um conjunto de símbolos mortos. E então aparece o leitor certo, e as palavras - ou antes, a poesia por trás das palavras, pois as próprias palavras são símbolos - saltam para a vida e temos uma ressurreição da palavra",,,
Conta a lenda que naquela manhã Lula acordou muito indisposto, tivera um pesadelo.
("Esse ofício do Verso" - Jorge Luis Borges).
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