A triste história das trigêmeas nascidas em Curitiba corre o mundo. É como se fosse a história do Bebê Diabo, dos anos 70, ou da Loira do Banheiro do ABC. É um assunto que desperta o interesse das pessoas pelo inusitado. Tanto quanto o caso do casal Nardoni que jogou a filha Isabella pela janela do apartamento. Ou do monstro austríaco que teve vários filhos com a própria filha trancada num porão de sua casa por quase 20 anos. Quem não fica chocado? Quem não se comove? Como não falar sobre os dramas e mistérios do cotidiano.
A ciência evolui, a tecnologia evolui, mas o ser humano, independente de sua cultura e região, continua um animal estranho, amoroso, mas pode ser cruel. Bondoso, mas podendo ser muito mau.
Mundo perfeito, só o mundo das formigas, que deve ser muito chato!
Não é a qualquer momento que ficamos sabendo que um casal quer ter filhos, consegue por meios artificiais e, na hora em que nascem as criancinhas tão desejadas o pai diz: não quero mais, vou levar só duas.
Psicólogos dizem que a reação dos pais pode ter sido por causa do estresse de todo o processo, desde o início, quando descobriram que não podiam ter filhos. Mas há pessoas revoltadas e que dizem que esperar um filho não é como escolher um produto na loja e despois desistir na boca do caixa.
Abaixo, uma interessante matéria do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, sobre a repercussão do caso:
Por Andréa Morais
Dois professores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná ouvidos pela Gazeta concordam que essa possibilidade existe.
O filósofo Jelson Oliveira defende que a tecnologia está fazendo com que as relações entre pais e filhos percam a razão de sacralidade, que sempre as acompanhou desde os primórdios da humanidade.
O bioquímico Sérgio Siqueira, que representa o Paraná na Comissão Nacional de Bioética, manifestou preocupação com a sobra de embriões em clínicas e afirma que, se não for encontrada uma forma de evitar que essa prática persista, a geração artificial de vida deve ser rediscutida. Acompanhe os principais trechos das entrevistas:
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O lado da filosofia
Jelson Oliveira, diretor do curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
O que, na sua opinião, difere o processo de geração de um filho por métodos naturais e por reprodução assistida?
O filho tinha, no passado, uma carga muito mais ligada ao sagrado ou ao natural. As relações com os filhos sempre estiveram nas sociedades primitivas, na Idade Média e até na era moderna, marcadas por certa razão de sacralidade. Hoje, essa tecnologia da geração da vida cria poucos vínculos com os filhos. Ela explica tudo e perde-se, portanto, toda a sacralidade da relação. E isso acaba afetando a maneira como um pai recebe o seu filho.
É quase como uma relação de consumo?
O filho hoje está muito ligado à ideia de um produto da tecnologia. Nesse processo você pode descartar um filho como qualquer outro produto, que pode ser recusado se não vem da forma como solicitado. O pai planeja tanto, racionaliza tanto esse filho, que perde toda a sacralidade, mais ligada ao acaso da espera, que hoje praticamente não existe.
E quais são os riscos desse tipo de relação?
Quando o pai trata o filho como um produto, ele não tem a relação de compromisso e de afetividade que um filho exige. Nós não somos só seres que fazemos, somos seres que pensamos, amamos, nos relacionamos com as divindades. Neste cenário, você pode ter uma sociedade com muito mais problemas sociais.
E tem como frear esse processo?
Eu acho que não. Eu pesquiso um autor, chamado Hans Jonas, que escreveu em 1979 O princípio da responsabilidade, em que ele fala das consequências éticas do uso exacerbado deste viés técnico na vida humana. Ele fala, por exemplo, que nós estamos muito próximos do dia em que essa ciência que nos dá crianças como produtos vai fazer com que possamos ir na frente de uma máquina e escolher o filho que queremos ter. Se a gente recusa um filho porque não queria três, mas dois, logo podemos recusar aqueles que nascerem negros, homossexuais, ou com uma síndrome. O poder que a ciência nos oferece é muito bom, mas é perigoso. Ele precisa ser usado com ética, que é o que dá à ciência um certo limite, necessário principalmente quando afeta a vida humana.
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O lado da ciência
Sérgio Siqueira, bioquímico e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Na sua concepção, qual é a diferença entre se ter um filho por métodos naturais e por reprodução assistida?
Na essência, as duas coisas não apresentam diferença. Ambas decorrem do desejo da maternidade e da paternidade, que é um direito garantido a qualquer ser humano. Infelizmente, algumas pessoas têm dificuldades para atingir esse propósito de forma natural e precisam recorrer a métodos artificiais. O problema é quando se esquece, nesse desejo de ser pai ou mãe, dos riscos e implicações, incluindo a probabilidade de uma gravidez múltipla.
Em procedimentos como a inseminação e a fertilização artificiais, quais são os riscos da geração de um filho ser tratada como uma relação de consumo?
O consumo nasce de um desejo de se ter algo, assim como ocorre quando se deseja ter um filho. E hoje, com esse acesso à tecnologia, é realmente possível tratar esse assunto como se fosse uma relação de consumo, na medida em que você está pagando pela chance de ser pai ou mãe. Mas as pessoas precisam ter claras quais são as consequências dessa escolha, o que também se aplica a quem tem filho de forma natural e que também pode abandonar essa criança.
É natural presumir-se que os pais estão preparados para essas consequências. O que pode desencadear uma reação de rejeição?
As mães passam por alterações hormonais que acabam refletindo no comportamento, o que justificaria uma rejeição. Mas isso não acontece com o pai. O que pode ter acontecido, neste caso específico, é que, com o nascimento, o pai tenha se dado conta de que não conseguiria assistir às três crianças, do ponto de vista material e de cuidados. Mas, qualquer que seja o caso, isso é lamentável, porque as crianças não pediram para nascer.
Em janeiro de 2005, as clínicas de fertilização do Brasil tinham cerca de 20 mil embriões congelados. Seis anos depois, esse número é seguramente bem maior. O que o senhor defende que deva acontecer com esses embriões?
Esse problema é muito mais de ética do que técnico. Há toda uma discussão se os embriões já são ou não seres humanos, mas, se não é vida, é potencial de vida e nós temos que respeitar isso. Esse excesso produzido por conta da necessidade de se ter maiores chances de sucesso no processo de fertilização já trata a vida como uma coisa menor e isso é muito triste.
O senhor acha que esses embriões não podem ser usados em pesquisas ou descartados?
Eu acho que não deveriam existir sobras de embriões. Se isso inviabiliza a reprodução assistida, nós teríamos de voltar a discutir se isso realmente vale à pena. Um embrião é no mínimo um potencial de vida, que não pode ser eliminado quando perde a viabilidade.
"Há cerca de três décadas, a ciência conseguiu fazer com que casais com dificuldades de engravidar realizassem o sonho de ter um ou mais filhos. Hoje, no Brasil, todos os anos, pelo menos 25 mil mulheres recorrem à fertilização in vitro e um número ainda maior, mais não especificado pelas entidades médicas, faz inseminação artificial. Nos dois casos o processo deixou de ser natural e a polêmica sobre os efeitos desses procedimentos sempre esteve presente.
Nesta semana, o assunto voltou à cena, depois da divulgação da história de um casal de Curitiba que fez fertilização artificial, gerou trigêmeas, mas rejeitou uma das meninas, porque só queria duas, preterindo a que apresentava problemas de saúde. O debate que se abriu é se hoje as pessoas transformaram o ato de ter filho numa geração de consumo.
Eu mesmo espero que os pais tenham agido sob a pressão do estresse e tenham as filhas de volta. Afinal, eram filhos que queriam. E conseguiram três! Imagino que possam estar aturdidos, assustados com a repercussão do caso, arrependidos profundamente, se forem bons cristãos. Que Deus os proteja, e a suas três filhas e que formem uma família feliz.
Gutenberg.
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