O fato da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ter recebido doação de R$ 75.000,00 das Forjas Tauru não é, em absoluto, ilegal. Acho, apenas, que escorrega no campo da ética e dos princípios.
Vou tentar explicar meu ponto de vista, e ele é bem simples. Utilizarei um exemplo de coerência com a questão dos princípios, que acho que está ficando cada vez mais distante da discussão política, em geral.
O curioso é que, no Brasil, desde os anos 90, foi havendo uma utilização crescente da palavra Ética, como se ela estivesse renascendo. Bela ilusão.
Ficamos, até, com a impressão de que, entre os partidos, um especialmente, era o próprio dono da Ética, se Ética dono pudesse ter. Sendo mais figurativo ainda, o PT vendeu ao eleitorado, uma imagem como se fosse a própria Ética em pessoa.
A propaganda era tanta que quem não fosse ligado ao partido já estaria forado campo ético. Claro, a ética está no programa partidário, como em todos os outros partidos. Então resulta no seguinte: nunca vi a dona Ética andando por aí. Vejo pessoas éticas, em qualquer partido. Ou não, em qualquer partido. Ninguém tem o monopólio da Ética, como pretende ter, o Estado, o monopólio das armas.
A propaganda funciona. Não é uma ciência exata, mas funciona. Podem ter a certeza disso. Os fatos não nos desmentem, principalmente em um país em que as pessoas parecem não ter memória e em que cada fato noticiado na imprensa parece apagar todos os antecedentes. O Brasil, de qualquer modo, parece ser um país muito estranho e inusitado.
Bem, voltando ao exemplo a que recorrerei, antes que a ministra possa dizer que campanha é campanha, e que doador é doador. Sobre o desarmamento, claro, ela pode ter a posição que quiser. Só precisa apresentar os fatos ao público de modo correto, é uma ministra. As armas legalizadas, de fogo, em poder da população civil, não são a causa da violência que vemos no Brasil. O Governo tem que combater o contrabando de armas e prender bandidos. É o que se espera. Mais ação.
Vamos lá: Certa vez caiu-me às mãos um livro muito interessante, escrito por um famoso publicitário brasileiro. Dessas figuras raras, que acreditam em princípios; que dão valor aos seus princípios, que procuram honrar a vida toda os seus princípios: Júlio Ribeiro (da Agência Talent).
No livro, autobiográfico, ele contava ter tido uma grande sorte na vida, pois podia dizer que, em todos os longos anos de profissão sempre pode ser fiel aos seus princípios.
E quais eram os princípios que o jovem publicitário Júlio Ribeiro queria seguir ao longo de sua vida?
1. Nunca precisar anunciar produtos de clientes da indústria do tabaco.
2. Nunca precisar anunciar produtos de clientes da indústria do álcool (bebidas).
3. Nunca trabalhar para clientes governamentais.
Prestem atenção, senhores leitores, não é proibido e nem é crime fazer campanhas para cigarros, bebidas e governos. Mas o publicitário Júlio Ribeiro nunca aceitou, por questões de princípio, tais anunciantes.
Acho que quem combate as armas de fogo deveria ter o cuidado de não aceitar doações da indústria de armas de fogo. Por uma questão de princípio, de lógica, de bom senso.
Mas parece que, no Brasil atual, isso é esperar demais de quem precisa de muito dinheiro nas campanhas eleitorais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário