O MATADOR THIAGO HENRIQUE GOMES DA ROCHA. FOTO GEOVANNA CRISTINA - FUTURA PRESS |
Que diferença faz, para as suas vítimas, para as garotas mortas, ou para os seus parentes, saber se Thiago Rocha, o matador de Goiânia, é um “serial killer” ou um “spree killer” (matador por impulso), conforme vemos especialistas e policiais discutindo pela imprensa, ou palpiteiros dando pitacos pelas redes sociais?
Dor, muita dor, e gigantesca sensação de impotência e indignação, é o que toma conta de quem perdeu uma filha, uma irmã, ou namorada, ou mãe. Saber se Thiago é um matador que se encaixa neste ou naquele perfil, conforme os sinais emitidos em seus crimes teria sido importante para a investigação policial anteriormente, no início do ano, quando a série de horrores começou. Talvez perceber um modo de operar padrão em abril ou maio tivesse evitado algumas mortes.
A identificação e a prisão de Thiago, há alguns dias, suspendeu, temporariamente, o pânico sob o qual viviam dezenas de milhares de famílias em Goiânia.
Também trouxe a surpresa e a perplexidade a muitos moradores do Conjunto Vera Cruz II, a Oeste da capital goiana. Ali morou toda a vida, na rua VC55, o garoto quieto, reservado, sem amigos, que se transformou em um sujeito atlético e alto (1,87 m) que agora trabalhava como vigilante em uma empresa.
AUXILIAR DA MORTE
Todas as pessoas sabem, mas preferem não ficar pensando nisso sempre, que pode-se não voltar para casa ao fim do dia. A morte parece estar sempre à nossa espreita, aguardando alguém para levar deste mundo. E ela leva mesmo, sem dó e nem piedade. Pode-se morrer atropelado, ficar sob uma marquise mal cuidada, à frente de uma bala perdida, ou inerte, em um leito de hospital.
Mas o que choca, como nos casos de Goiânia, é a aparente gratuidade das mortes, sua falta de motivos, a absoluta surpresa, o absoluto inesperado. De alguém doente, internado em uma UTI, podemos esperar uma má notícia, sempre ruim, é claro, mas quase previsível.
O que dizer de uma garota que sai para trabalhar, fazer compras, estudar, namorar e que, em uma esquina qualquer, cruza com um maluco que lhe dá, sem qualquer motivo, além da “vontade de matar”, um tiro na cabeça e vai embora como se nada tivesse acontecido?
Destino? Vontade de Deus? Trabalho de Átropos, aquela parca grega que, impiedosamente, corta o fio da vida? Serviria isto de consolo para o inconsolável, que é a perda de quem se ama?
A Morte é a outra face da moeda que tem de um lado a Vida.
Sabemos que nada controlamos neste mundo que a Modernidade pensou poder recriar e tornar perfeito, sem dor, sem lágrimas, sem doenças, sem morte. Pura ilusão. Todavia, a cada um deveria ser dado o direito, pelos deuses do Olimpo, ou por Deus, de viver um pouco mais, não ter os dias cortados tão cedo pela implacável tesoura de Átropos.
Mas não é assim que a coisa funciona.
Há o imprevisível, há a surpresa, há a sorte, há o azar; há o Mal, e esse pode responder pelo nome de Thiago, o auxiliar da Morte. Contra seus argumentos (“sinto grande vontade de matar”) nada podem fazer as pobres vítimas, pois de nada desconfiam, apenas vivendo a vida em seu cotidiano tão humano.
E isso sempre foi assim e, para nossa dor e indignação, sempre será assim.
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